quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

UMA NOVA AGENDA CRISTÃ PARA UM ADMIRÁVEL MUNDO NOVO?

‘Estamos mudando a agenda do mundo...’ Esta afirmação foi feita pelo então presidente nacional do PT, José Genoíno, em janeiro de 2005, por ocasião da 35ª edição do Fórum Mundial Econômico, tradicional evento realizado anualmente em Davos, na Suíça, e que congrega as maiores potências econômicas do planeta. O objetivo de Genoíno, foi chamar a atenção para o fato de que com a chegada de Lula ao encontro, a ordem dos trabalhos foi alterada, sendo a discussão sobre as causas sociais conduzida imediatamente para o centro dos debates.

A rigor, referida mudança de calendário guarda muito mais relação com o interesse que o tema vem despertando, já há algum tempo, em todos os rincões do planeta, do que, propriamente, com qualquer prestígio que o presidente Lula pudesse eventualmente desfrutar, naquele momento, junto à comunidade internacional. Afinal, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, com a qual os defensores de direitos humanos sempre sonharam, tornou-se tema recorrente nas últimas décadas. Tanto que a nossa Constituição de 1988, também dela se ocupou, colocando-a, em seu artigo 3º, como um dos objetivos fundamentais da Nação.

E isso não é tudo. A necessidade de se estabelecer a justiça social no mundo, que até bem pouco tempo trazia desconforto tão somente à classe política, começou, nas últimas décadas, a inquietar também os religiosos.

Apenas a título de exemplo, preocupado com o aumento da fome e das desigualdades sociais, o então secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas Cristãs, Philip Potter, lançou, em 1969, um emocionado e comovente apelo: ‘Conclamamos as igrejas a se moverem... para a relevante e sacrificial ação que conduzirá a novos relacionamentos de dignidade e justiça entre todos os homens e para se tornarem para a reconstrução radical da sociedade... É necessária uma mudança radical das estruturas sociais, econômicas e políticas, e não a mera transferência prudente dos recursos e das tecnologias’. Tempos depois, o então papa João Paulo II declarou a justiça social ponto de convergência de todas as religiões do mundo. E, finalmente, neste início de século XXI, a causa social conquistou, também, a simpatia e a adesão de uma das mais poderosas e influentes instituições contemporâneas: a igreja evangélica.

Passeatas em prol da paz, campanhas pelo desarmamento e pela preservação do meio-ambiente e shows musicais para arrecadar alimentos, são apenas alguns exemplos de iniciativas que têm reunido, com uma freqüência jamais vista antes, verdadeiras legiões de evangélicos, das mais diversas correntes doutrinárias, em torno dos temas sociais.

Em toda a campanha eleitoral, hordas de candidatos, representando as incontáveis comunidades evangélicas, apresentam suas propostas – sempre temperadas, é claro, com uma generosa pitada de conceitos espiritualizados – para acabar com a forme e a miséria na comunidade em que atuam. Fica-se com a impressão de que eleitores produzindo transformação social são mais relevantes do que discípulos pregando o Evangelho genuíno.

Oportuno ressaltar, neste particular, que Jesus nunca afirmou, ou demonstrou qualquer intenção de fazer da ação político-social o objetivo principal de Sua Igreja. Naturalmente que precisamos nos empenhar em alimentar e vestir os pobres, mas se seguirmos, com honestidade de propósitos, o exemplo de Cristo, nossa legítima e principal preocupação será a de apresentar-lhes, e a todas as demais pessoas que habitam este mundo, Sua Cruz redentora.

A liderança religiosa, por seu turno, certamente por acreditar em sua própria falácia de que as injustiças sociais tenderão a desaparecer à medida em que o evangelho for atingindo um contingente maior de pessoas, tem se valido de todo arsenal de comunicação de que pode dispor, para transmitir uma mensagem recheada de humanismo, visando cooptar os incautos corações e mentes que ignoram o alerta de Jesus: “Tenho vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16.33) (ênfase acrescentada).

Não bastasse isto, dado o fato de que humanismo e apostasia são verso e anverso de uma mesma moeda, e que a sobrevivência do primeiro depende da existência da segunda, referida liderança não hesitou em falsear, quando não, abolir deliberadamente a ortodoxia bíblica, com o objetivo de tornar seu discurso religioso mais palatável. Abdicando da verdade de que “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (II Tm 3.16), substituiu o evangelho de arrependimento, regeneração e crucificação do eu, por expressões que enaltecem a necessidade de conquista, sucesso pessoal e entretenimento.

A abordagem nos cultos, nas escolas dominicais ou, em quaisquer outros ofícios religiosos, passou a servir mais como um guia prático de resolução de problemas humanos do dia-a-dia, tais como finanças pessoais, relacionamentos interpessoais e diversas necessidades sociais daqueles que fazem parte dos incontáveis grupos evangélicos. Tornou-se imperioso que a liturgia contenha música capaz de agradar aos diversos segmentos de público (ainda que seu conteúdo seja discutível do ponto de vista doutrinário), bem como teatro e coreografia, coroados, quase sempre, de calorosos aplausos, e que seja ‘enriquecida’ com uma mensagem necessariamente triunfalista, incentivando uma fé capaz de conduzir à prosperidade e promover a cura de todas as enfermidades por meio de uma atitude mental positiva. O templo, outrora usado pelo povo de Deus como local de adoração, acabou por se transformar em um espaço de ‘celebração’ em que o mais importante é o massagear do ego e a satisfação das emoções. Em síntese, “... mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura que o Criador...” (Rm 1.25). Observar com um pouco mais de acuidade espiritual a igreja dos nossos dias, já é mais do que suficiente para se identificar nela características que são peculiares à ‘grande babilônia’, o sistema religioso descrito em Apocalipse 17.3-6 (especialmente versos 4 e 5), que numa relação promíscua com o Anticristo vai auxiliá-lo em sua ascensão ao poder, além de dar-lhe sustentabilidade durante o primeiro período da grande tribulação.

Por tudo isto, quando se olha um pouco mais atentamente para o atual cenário religioso, tem-se a impressão de que a igreja evangélica já não pretende mais esperar pela Agenda de Jesus, na qual o Mestre deixou consignada Sua promessa “... vou preparar-vos lugar... virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo, para que onde eu estiver, estejais vós também” (Jo 14.2-3). Contrapondo-se a Ele, resolveu tomar para si a responsabilidade de instituir uma nova agenda para o mundo. Para isso, negligenciando a advertência do apóstolo Paulo no sentido de “...não sede conformados com este mundo...” (Rm 12.2), e sem se aperceber da gravidade que isso representa, passou a compartilhar do mesmo discurso utilizado pelos organismos seculares e pela religião de Roma, no sentido de que é possível o estabelecimento da paz e da justiça social na Terra, através de ações meramente humanas.

Neste ponto, impõe-se uma pergunta a fim de que sobre ela se possa refletir. Não estaria a igreja evangélica de nossos dias, com tal postura, ofertando sua valiosa cooperação para tornar possível a construção do ‘admirável mundo novo’, vaticinado pelo escritor inglês, Aldous Huxley, que com sua obra de ficção publicada em 1932, lançou uma sinistra ‘profecia’ a respeito de um mundo que adviria? No mundo imaginário descrito por Huxley, as pessoas são pré-condicionadas biológica e psicologicamente a viverem em harmonia com as leis e regras sociais dominantes dentro de uma civilização cuja finalidade última é alcançar a felicidade de todos os seus membros, qualquer que seja a sua posição social.

Impossível deixar de concluir que a igreja evangélica assim agindo, está contribuindo, de forma decisiva, para induzir o homem a acreditar que é capaz de resolver todos os seus problemas sem a necessidade de uma experiência real de conversão e de um compromisso com o verdadeiro Evangelho de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Por conseguinte, crentes que aderem não importa quão sinceramente, a esforços humanistas de unir o mundo em torno desse objetivo, em nada auxiliam a causa do Nosso Senhor e Mestre, mas, ao contrário, emprestam uma preciosa colaboração para a construção do cenário que vai abrigar o reino do Anticristo. Ademais, nunca é demasiado lembrar que Deus não irá precisar de ajuda humana para estabelecer Seu Reino na Terra, porquanto Jesus Cristo o fará, e, tão somente, por ocasião de Sua segunda vinda, quando, então reinará a partir de Jerusalém, durante o Milênio. A idéia da reconstrução do Éden na Terra, antes ou fora dessa verdade intangível, é antibíblica e, portanto, de inspiração demoníaca.

O que o Senhor da Glória anela, isto sim, é encontrar Sua Noiva adornada para as Bodas do Cordeiro quando vier buscá-La no Arrebatamento e, por isso, advertiu o Seu povo a que “Cingidos estejam os vossos corpos e acesas as vossas candeias. Sede vós semelhantes a homens que esperam pelo seu Senhor... para que, quando vier e bater à porta, logo lha abram. Ficai, também, vós, apercebidos, porque, à hora em que não cuidais, o Filho do homem virá” (Lc 12.35-40).

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